Hoje sou imensidão

Hoje eu olhei pra parede. Vi nela um retrato e a dor que ele carregava. Ao olhar para aquela moldura me deparei com meus reflexos. Naquela parede estava pendurada o passado. Milhares de fotografias tolas e juras de amor eterno foram deixadas. Ao olhar para aquela parede me lembrei do que éramos e como sofríamos. Me lembrei que já rimos solto e brigamos feio. Aquela fotografia emoldurada serviu de espelho para a minha alma. Eu me enxerguei. Pude ver que de eterno meus pensamentos já não se ocupam mais. Que de amores e dores o sabor da vida se faz. Dentro de ti estava eu e saíamos muitas vezes sem rumo. Eu me vi em você. Mesmo que tão distante, mesmo que sem sono eu dormi.

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Centelhas vívidas daquilo tudo que era, a amizade. Naquela parede pendurava-se seu pescoço enforcado. Seus medos e angústias. Naquela parede eu via em ti o que nunca havia visto antes. Ali estava sua morte e sua dor. Quem sabe agora pudesse eu dormir. Porém não quisera. O que queria mesmo era desfacelar a parece com seu rosto nela. Deixar estampada a paz que sinto e mostrar a você a culpa que carrega. Eu queria gritar, mas as paredes nunca ouvem. Eu queria chorar mas as paredes não consolam. Eu estou feliz mas as paredes não veem. Você era a parede que me impedia de ver. E por aquele quadro, aquela moldura eu vi. Hoje em mim já não existem mais paredes. Sou imensidão.

 

[Carta do leitor – 13/12/16]