Um eu sem você #31 – 4 de novembro

1 mês. 31 dias. São 744 horas sem você aqui. São 44640 minutos sem saber quando ou se você vai voltar.

O dia está cinza e a previsão do tempo indica que o nublado se manterá até domingo. Dentro de mim, meu coração ainda está de luto e não aprendeu a pulsar feliz sem a emoção de ter rastros de felicidade por você estar junto de mim.

Esqueci os óculos na cabeceira da cama e não voltei pra pegar. Como de costume nesse tempo sem você, perdi a hora e se ficasse mais um segundo em casa talvez me recusasse a sair. Talvez seja mais fácil enxergando tudo meio embaçado hoje, talvez me dê uma falsa ilusão de que não é a sua falta que borrou todo o cenário da minha vida.

O contrário da data de hoje é que, ainda nessa semana, também faria 3 meses desde que meu coração encontrou um lugar melhor para pulsar do que dentro de mim. Seu corpo se transformou em moradia para os meus sonhos e o meu amor. Ainda o tenho como destino final, continuo seguindo o mapa da vida e acredito que o x marcado nele me levará até você, mais cedo ou mais tarde.

Na hora do almoço vou ao mercado em busca de doces para liberar um pouco de endorfina no meu dia e deixá-lo menos triste. No caixa, quem coloca meus bombons na sacola é uma moça com Síndrome de Down.

Lembro na hora de você e no tamanho do amor incondicional e lindo que você carrega no seu corpo inteiro e demonstra na dedicação no trabalho que você ainda está começando a trilhar. Sinto uma vontade absurda de compartilhar com você, mas me contenho.

Não o bastante, à tarde também vejo uma matéria de um rapaz com autismo que não podia falar e aos 20 anos descobre que pode cantar. Imagino o quanto você iria gostar de ver o vídeo, até mesmo pelo seu TCC. E me contenho mais uma vez.

Um pouco depois de me conter, vejo você entrando no Skype e você fica ali, online, por algum tempo. Fazia tempo que eu não a via tanto tempo online. Meu pensamento viaja entre coisas boas e ruins: você está ali pelo mesmo motivo que eu penso ou é simplesmente uma coincidência com o dia de hoje? Será que está em uma videoconferência com outro alguém? Começo a interpretar sua presença online de modo que eu jamais saberei qual é a certa. Minha única certeza é das saudades das noites com você na webcam.

Ouço ininterruptamente Adam Levine e a trilha sonora de Begin Again. É minha forma de te ter comigo em um dia tão triste e que só me lembra que ele, na verdade, é o marco de um tempo fechado sem você.

No final da noite, saio conversar e beber com um amigo e, ao chegar em casa, a chuva lava a minha alma e, em cada gota que toca o meu corpo, sinto como se fosse um beijo teu. E te mando, por sintonia telepática, outros milhares de beijos de boa noite.

Carla Oliveira

Carla Oliveira Jornalista por formação, apaixonada pelos encantamentos diários por destino. Há 24 anos tenta escapar dos sentimentos, mas sem eles fica sem sentido. O cheiro que mais gosta é aquele teu que gruda na pele dela. Ah: canceriana, intensa, extremista e chata.

Um eu sem você #30 – 03 de Novembro

O despertador toca e me tira da cama, me lembrando que mais uma semana está começando. Por pura ilusão ou falsa esperança, eu ainda abro o Whatsapp pra ver se tem algo seu. Como sou tola, você sequer responde quando a procuro, o que dirá me mandar uma mensagem por livre e espontânea vontade, né?

No segundo seguinte, me levanto e quase caio com a intensidade da cólica. Por incrível que pareça, desde que você se foi eu perdi todo o equilíbrio não só da vida, mas do meu corpo. As dores são mais fortes e estou adoecendo constantemente.

No Terminal de ônibus, me atento aos adolescentes em seus rituais de paquera. O pensamento que assola minha cabeça é um só: quando somos mais novos, as decepções parecem ser menores, ou a capacidade de regeneração do coração é mais veloz. Com o amadurecimento e o acúmulo de desilusões, as feridas tornam-se incicatrizáveis. Ficamos imunes às drogas que nos permitiam acreditar mais uma vez e nada mais faz efeito.

Sem contar quando conseguimos, por sorte ou azar, fazer o coração cicatrizar com a condição de sempre carregarmos uma marca gigante e impossível de esquecer. Se jogar no labirinto de outro ser, sem sequer pensar se vai doer, é utópico.

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De repente, o que podia ser curado torna-se irremediável. Nós só temos que aprender a viver com as ausências e as dores, especialmente nos dias gelados que as acentuam. Principalmente eu, amante do frio. O único calor que me agrada é o do teu corpo.

Abro meu e-mail no trabalho e o primeiro que leio é que você não retirou a almofada que eu havia comprado pra você. Controlo meu impulso de procurá-la e só o faço quando estou mais sã.

Você, com poucas palavras, apenas confirma que não a retirou e julga não ser saudável ter nada meu no momento. Pela primeira vez, tento não demonstrar muitas emoções mas também não sei ser totalmente fria. Te desejo uma boa tarde e você nem consegue me responder o mesmo. Espero que, dentro de você, ainda exista algo de bom disso tudo e que em um dia breve tenhamos todos os pingos nos is.

Meu amor é teu e a espera, ainda que inconsciente, é inevitável. Meus pés amaram acompanhar os teus e, agora, tentam constantemente encontrar rastros de onde tens andado.

Um amigo me pergunta como anda meu coração. Sei que, no fundo, é uma investigação em nome de alguém. Ainda não estou pronta pra declarar ao mundo que encontrei o amor mais lindo do mundo e que não posso vivê-lo.

A verdade é que eu queria poder falar que estou indisponível, que meu coração não bate mais no meu peito pois o entreguei pra sempre nas mãos de alguém sensacional: você. Mas respondo apenas superficialmente que estou solteira. Sem mais palavras. Sem mais detalhes.

O tempo passa e aprendemos que é muito mais fácil fingir não sentir nada, camuflar o amor e só deixá-lo transparecer quando nos deitamos na cama à noite do que tentar explicar ao mundo nossos sentimentos.

Espero que você, ao menos você, saiba sempre da verdade que tento ocultar do resto do mundo. Espero, também, que dentro das suas verdades ocultas ainda tenha um pedacinho de amor e carinho por mim.  A nossa reciprocidade era uma das partes mais espetaculares da nossa história.

Que ela dure pra sempre, mesmo que em silêncio.

Carla Oliveira

Carla Oliveira Jornalista por formação, apaixonada pelos encantamentos diários por destino. Há 24 anos tenta escapar dos sentimentos, mas sem eles fica sem sentido. O cheiro que mais gosta é aquele teu que gruda na pele dela. Ah: canceriana, intensa, extremista e chata.